A ignorância prazerosa


Eu sou daqueles que pirou quando assistiu Matrix pela primeira vez no cinema em 1999. Que pena que os outros dois foram ruins e acabaram estragando a imagem do primeiro filme, que é praticamente perfeito.

Nunca me esqueço de uma cena num restaurante onde o personagem Cypher, que está traindo os da resistência, pega um pedaço de carne e fala: “Eu sei que este pedaço de carne não existe, mas a Matrix diz ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após nove anos, sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa...”

Essa cena descreve a pura verdade, a ignorância é prazerosa e cômoda, muitos querem continuar sendo iludidos para continuarem na zona de conforto.

Sempre tive dó desses músicos com ouvido absoluto, já pensou? Eles não curtem uma música como os outros, nem conseguem comer em restaurantes com música ao vivo, pois vão sempre estar incomodados com uma semi-tonada que alguém der. Mas eu, pelo contrário, posso “curtir” a música se estiver razoavelmente aceitável para a maioria.

Meu pai, por ser desenhista, me confidenciou certa vez que sempre que vai visitar alguém fica incomodado o tempo todo com os quadros “tortos” da parede. Mas a maioria das pessoas nem tinham, sequer, reparado nos quadros.

Foi assim que aconteceu comigo e com muitos que conheço, quando começamos a ler a bíblia e comparar com o que vivemos e temos visto.

Não dá para aceitar, é como se o quadro estivesse torto ou os instrumentos desafinados. Não conseguimos ficar calado, precisamos falar e mostrar que muita coisa que estamos vivendo não tem nada a ver com o evangelho.

Mas o que tenho reparado é que uma parte dos que estavam na ignorância decidem voltar para ela, pois o conhecimento gera uma responsabilidade que eles não querem carregar.

Karl Marx tinha uma boa parte de razão quando falou que a religião era o ópio do povo, pois assim como o ópio, certas teologias, mesmo sendo mentirosas, tiram da realidade a pessoa e criam uma neblina de ilusão prazerosa.

Acreditamos que se alguém conhece a Verdade, ela vai libertar. Não só do pecado, mas do legalismo, de uma religião opressora, de um sistema político corrupto, de uma tradição morta.

Mas para isso temos que ter coragem e responsabilidade de escolher o que não é o mais prazeroso e nem o mais cômodo, para ficar com a verdade.

Em uma sociedade hedonista, vejo cada vez mais pessoas abraçando e valorizando a ignorância, dizendo: Eu sei que é mentira essa teologia, mas como a ignorância é prazerosa...

MARCOS BOTELHO DO JV

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